sábado, 21 de julho de 2007

Nossa Implicante-Poetisa


Demorou, o blog mudou, mas eis a segunda poetisa do Bando de Letras: Susana Zimermann. Recém-formanda em Letras, com 24 anos, a Susana é uma daquelas pessoas multifunções: cantora (de primeira linha!), professora de literatura (ela não quer dar aula de português!), professora de flauta doce e poetisa. Essa última faceta dela, talvez seja, infelizmente, a menos conhecida... Mas nosso Blog tentará compensar esse desconhecimento. A Susana é uma grande fã da Ana Carolina, tanto que adivinhem com a música de quem ela entrará na cerimonia de colação de grau?? A música será Implicante, pesquisem a letra e verão que tem tudo a ver com ela! Aí vão dois textos da Su! Enjoy e comentem!
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QUANDO EU NÃO VOLTAR...

Quando eu não voltar
Que um arco – íris brote no céu
Quando eu não voltar
Que a redenção seja somente minha
Quando eu não voltar
O céu será azul
Azul de um profundo olhar
Quando eu não voltar
A minha dor já se apagou
Quando eu não voltar
A dor deixará de existir
Quando eu não voltar
A alegria será de um tom de armagedom
Quando eu não voltar
Já não existirá você
E eu também já não lembrarei de nós
Quando eu não voltar
A sua alegria deixará de ser breve
Quando eu não voltar
Já não lembraremos
Já não existiremos nós
E o favor que pediu ao céu
Brotará numa flor azul.
A paz já não voltará branca
Quando eu não lembrar...
Quando eu não voltar
A dor terá ido comigo
Afinal quem sempre a carregou fui eu
Quando eu não voltar
Aí, sim, você se lembrará
Do trato de seguirmos em frente
E a paixão deixará de ser dor.
Pois quando eu não voltar
Nada disso aconteceu...
...

QUANDO EU NÃO VOLTAR...

Susana Zimermann
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MEU DEUS E MINHA CRUZ

Será que o tempo tem
Uma estação de riso e cor
Onde se guardam essas
Pequenas coisas do amor
E a melancolia
Se envolve em poesia
Entre os sons da minha voz
Asteando as bandeiras
Que vão deixando poeira
E excitam a imaginação

Quando me lembro de ti
A alma se deixa voar
E assim não me sinto tão longe
Quando me lembro de ti
Logo me vejo vencido
Só eu sei como te quero
Quando me lembro de ti

E sinto a pele fraca
Parece uma tentação
Te busco no impossível
Temendo tudo ao redor
Quando em visões te vejo
Sinto sementes brotando
E penso ter a explicação

Quando me lembro de ti
A alma se deixa voar
E assim não me sinto tão longe
Quando me lembro de ti
Logo me vejo vencido
Só eu sei como te quero
Quando me lembro de ti

Se teu fogo ilumina minh'alma
E eu sei que finalmente é você
De que importa perder a batalha
Se no final do caminho
VOCÊ É MEU DEUS E MINHA CRUZ

Cada vez que me lembro,
Cada vez que me lembro de ti
A alma se deixa voar e não te sinto tão longe de mim
Cada vez que me lembro,
Cada vez que me lembro de ti
Não me sinto vencido
VOCÊ É MEU DEUS E MINHA CRUZ

Susana Zimermann

A Primeira Poetisa



Eis o início efetivo das atividades virtuais do Bando de Letras: a primeira poetisa do Bando tem suas poesias aqui postadas.

O nome dela é Cheila S. Silva, ela tem 19 anos e cursa o I nível de Letras aqui na UPF. Uma coisa incrível na Cheila foi a motivação que ela teve em escrever e participar do Bando logo que ela tomou conhecimento das nossas atividades. Foi algo tão espontâneo e motivado que creio que todos os integrantes mais "antigos" surpreenderam-se muito com o talento da nossa "bixo". Aí vão as duas poesias escolhidas pela Cheila: "Eu te perdi" e "Fui eu antes de você".

P.S. É extremamente importante e motivador para quem escreve, receber comentários sobre seus textos, portanto, COMENTEM!

Ass. Bruno Philippsen

* Pintura: “O Beijo" (1907/08), de Gustav Klimt (1862 - 1918), pintor simbolista austríaco.
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Eu te perdi

Eu te perdi no dia
que descobri que o tinha junto a mim,
te perdi no vento,
na brisa e na névoa.
Acho que te perdi bem antes
de saber que tinha perdido.
No dia em que não te revelei,
e naquele mesmo dia
Que faltou a coragem para olhar
nos seus olhos e igualar
nossos sentimentos.
Te perdi quando joguei
fora a oportunidade de
dizer-te o simples
amor que me coube.

Cheila S. Silva

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Fui eu...Antes de você.

Antes de você
Eu era apenas eu
Sozinho, frio, vazio
Fui a manhã de inverno
a esperar em você a aurora
era eu...
quem diria, que um dia era.
Fui o mar revolto
Que ninguém navegou
que sozinho em pranto ficou.
Fui o segredo jamais revelado
a espera de que por ti fosse roubado.
Anda não sei se fui eu...
Fui a música que nunca
ninguém compusera
até o dia em que te ouvi cantar
e para ela...
Então sei que já posso dizer
que fui o que sou agora
mas a diferença é que contigo
e agora,
eu gosto de ser o que sou.

Cheila S. Silva




TERRORISMO POÉTICO - Hakim Bey



Dançar bizarramente a noite inteira em caixas eletrônicos de bancos. Apresentações pirotécnicas não autorizadas. Land-art*, peças de argila que sugerem estranhos artefatos alienígenas espalhados em parques estaduais. Arrombe apartamentos, mas, em vez de roubar, deixe objetos Poético-terroristas. Seqüestre alguém e o faça feliz. Escolha alguém ao acaso e o convença de que é herdeiro de uma enorme, inútil e impressionante fortuna - digamos, cinco mil quilômetros quadrados na Antártica, um velho elefante de circo, um orfanato em Bombaim ou uma coleção de manuscritos de alquimia. Mais tarde, essa pessoa perceberá que por alguns momentos acreditou em algo extraordinário e talvez se sinta motivada a procurar um modo mais interessante de existência.

Coloque placas de bronze comemorativas nos lugares (públicos ou privados) onde você teve uma revelação ou viveu uma experiência sexual particularmente inesquecível, etc...

Fique nu para simbolizar algo.

Organize uma greve na escola ou trabalho em protesto por eles não satisfazerem a sua necessidade de indolência e beleza espiritual.

A arte do grafite emprestou alguma graça aos horríveis vagões de metrô e sóbrios monumentos públicos - a arte - TP também pode ser criada para lugares públicos: poemas rabiscados nos lavabos dos tribunais, pequenos fetiches abandonados em parques e restaurantes, arte-xerox sob o limpador de pára-brisas de carros estacionados, slogans escritos com letras gigantes nas paredes de playgrounds, cartas anônimas enviadas a destinatários previamente eleitos ou escolhidos ao acaso (fraude postal), transmissões de rádio pirata, cimento fresco...

A reação do público ou o choque-estético produzido pelo TP tem que ser uma emoção pelo menos tão forte quanto o terror - profunda repugnância, tesão sexual, temor supersticioso, súbitas revelações intuitivas, angústia dadaísta - não importa se o TP é dirigido a apenas uma pessoa ou várias pessoas, se é "assinado" ou anônimo: se não mudar a vida de alguém (além da do artista), ele falhou.

O TP é um ato num Teatro da Crueldade sem palco, sem fileiras de poltronas, sem ingressos ou paredes. Para que funcione, o TP deve afastar-se de forma categórica de todas as estruturas tradicionais para o consumo de arte (galerias, publicações, mídia). Mesmo as táticas de guerrilha Situacionista do teatro de rua talvez tenham agora se tornado muito conhecidas e previsíveis.

Uma requintada sedução levada adiante não apenas pela satisfação mútua, mas também como um ato consciente por uma vida deliberadamente mais bela - deve ser o TP definitivo. O Terrorista Poético comporta-se como um trapaceiro barato cuja meta não é dinheiro, mas MUDANÇA. Não faça TP para outros artistas, faça-o para pessoas que não perceberão (pelo menos por alguns momentos) que o que você fez é arte. Evite categorias artísticas reconhecíveis, evite a política, não fique por perto para discutir, não seja sentimental; seja impiedoso, corra riscos, vandalize apenas o que precisa ser desfigurado, faça algo que as crianças lembrarão pelo resto da vida — mas só seja espontâneo quando a Musa do TP o tenha possuído.

Fantasie-se. Deixe um nome falso. Seja lendário. O melhor TP é contra a lei, mas não seja pego. Arte como crime; crime como arte.

* Tipo de arte que usa a paisagem, normalmente natural, como objeto artístico, sendo a própria natureza (e seus fenômenos, chuva, vnto, etc.) elementos constitutivos da obra.

Tradução de Jeferson de Oliveira


Hakim Bey,
pseudônimo de Peter Lamborn Wilson, (Nova Iorque, 1945) é um escritor, ensaísta e poeta que se entitula como um "anarquista ontológico". Escreveu diversos ensaios sobre as tradicionais sociedades secretas chinesas (Tong), Bey introduzindo o conceito de Zona Autônoma Temporária a partir de seus estudos históricos sobre as utopias piratas no fim da década de 90 foi amplamente reconhecido no mundo todo, também escreveu sobre Charles Fourier, Friedrich Nietzsche e sobre as conexões entre o sufismo e a antiga cultura turca. Também em língua turca, Hakim significado juiz e Bey significa cavalheiro.
Viveu dois anos na
Índia, Paquistão e Afeganistão e sete anos no Irã onde foi afiliado a Academia de Filosofia Iraniana e saindo do país durante a Revolução Islâmica. Na década de 80 influenciado por René Guénon estudou a fundo as idéias do anarquismo e do situacionismo com sufismo e Neopaganismo, e escrevendo sobre suas idéias de sobre "anarquismo ontológico" e "imediatismo". Os últimos trabalhos são para o projeto Autonomedia, uma editora de livros anarquistas de Nova Iorque.

Prólogo



Aqui estamos.

Alguns malucos do curso de Letras da Universidade de Passo Fundo que decidiram criar (ou recriar) um grupo de divulgação literária (ou Terrorismo Poético).

Nossa idéia é difundir literatura e formar leitores em nosso ambiente e confirmar ainda mais o título que nossa cidade tem de Capital Nacional da Literatura.

Mas não queremos somente formar leitores. Queremos ir além. Desejamos formar escritores. Desejamos nos formar como escritores. Desejamos que os leitores que acaso venhamos a formar tornem-se por sua vez escritores e formadores de leitores em um ciclo de criação e recriação literária.

Enfim, estamos produzindo literatura. Precisamos agora produzir leitores.
Somos leitores e escritores. Precisamos que todos façam isso também.
Este será um dos meios pelo qual faremos isso. Nosso blog será um canal de divulgação de escritos e de debate literário acerca do que produzimos e do que qualquer um produza e se mostre interessado em postar aqui.

As cortinas são abertas. Que o Terrorismo Poético comece.