segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Lady Naiane Byron


Então vamos dar continuidade à apresentação dos poetas e poetisas do Bando. Muito embora só tenhamos poetisas no blog até agora.

Chegou a vez de figurar aqui em nosso blog, uma moça que eu conhecia muito pouco até agora. Ainda bem que até agora, pois depois de ler suas poesias notei que ela é uma pessoa muito especial. Trata-se de uma daquelas poetisas com olhar crítico e penetrante que percebe a realidade à sua volta e utiliza o que escreve para tentar mudar um pouco do que vê e desaprova.

A Naiane faz Letras na UPF, e adora Alvares de Azevedo e o mal-do-século, o que explica o apelido de Lady Byron, dado à ela pelo nosso outro integrante do Bando, o Guido. Além disso ela tem admiração por outros mestres da palavra, como Manoel de Barros, Mario Benedetti, Dom Pablo Neruda, Elisa Lucinda, entre outros. Ao mesmo tempo gosta da ficção científica crítica e lúcida de Aldous Huxley e a literatura alegórica e consciente de George Orwel.
Segundo a própria Naiane, ela não segue uma linha única na poesia, em suas palavras: "resolvi começar a brincar mais..." E ela brinca muito bem com as palavras! Os poemas dirão por si, e tornarão esse meu pequeno texto de apresentação, meramente decorativo.
A Prof. Norma Discini, durante um curso que ela realizou aqui em Passo Fundo, durante a 12ª Jornada Nacional de Literatura, disse muito bem que o poeta é um homem mítico, pois aproxima-se de problemas sem solução, aborda temas como morte, medo e culpa...Tenho certeza de que a Naiane enquadra-se muito bem nessa descrição de poeta. Aproveitem os textos e comentem.



Bruno Philippsen


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Pobre país

Jovens de mais para morrer,
Para pender as almas nos ares.
E enfrentar a maldita dura
Tão fortes sentindo dores.

Tão defensores de ideais.
Jovens, modernos, revolucionários.
Queria ter eu alma assim,
Mas sem fotos de “procura-se” nos jornais.

Pobres pais.

Deixei um pouco de mim
Em cada chão que pisei.
Um pouco de mim ficou
Nos ares que respirei.
Mas sei que nada meu,
Nem sentimento, nem palavra,
Permaneceu no homem que tanto amava.


Velas acesas

Peguei uma página... aleatoriamente.
Senti um peso nas costas,
Mas segui em frente.
Apaguei a luz,
Acendi duas velas
E as uni, esquentando as ceras.
A chama sendo só uma:
Almas encontradas.
As ceras intensamente tocadas:
Corpos por mesma função.
E meus olhos invejando,
Desejando fazer o mesmo.
Já que velas apagadas
Não iluminam.
Acontece que a página
Logo termina
E meu sonho acaba-se
Ao secar da tinta.
Sendo a pena apenas tocada
Pelo vento que da janela chega.
Tentando levar para outros ares...
Espalhando velas acesas.


Jeito de dizer AMOR
Janelas fechadas
longe dos mares,
não chegam os ares
em dor camuflada.
E os olhos sediços
da boca que chega,
me toca, me faz
feliz por inteira.
E nosso silêncio usa boca
- casa das palavras-
nossos lábios, nossas línguas
usam a mesma rima:
com beijo se cala
e ao mesmo tempo se fala.


Poesia azeda

Meu pé de limão
Azedou teu dia,
Fez-te até escrever
Uma poesia.

Meu limão que é até doce
Quando estou apaixonada,
Mas só empresto para outros
Para azeda limonada.

Meu verde limão,
Como chama atenção!
Se não é pela cor
É pelo cheiro de estar ao chão.

Limão estragado
Não serve para poesia, então?


Imaginação

Janela à toa...
Tão boba, tão louca.
A paisagem ecoa
Que a nuvem sumiu.

Foi formar um desenho
Que ninguém mais viu,
Só eu à toa...tão boba, tão louca.
Que sou a janela
De sua mente agora.

Ou vai dizer que não imaginou
Tudo o que escrevi?
Que nem tenho certeza
Se um dia vi.